Medida atinge auxiliares sem estabilidade em órgão vinculado ao Ministério da Fazenda; sindicatos prometem resistência
O governo federal decidiu demitir cerca de 800 trabalhadores sem estabilidade do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa pública subordinada ao Ministério da Fazenda. A medida, que entra em vigor em novembro, foi anunciada na tarde desta segunda-feira (13) pela Diretoria Executiva do Serpro, sob a justificativa de “obsolescência” do cargo de auxiliar, considerado “em extinção” desde 2011.
A decisão provocou forte reação sindical, especialmente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (Sindppd/RS), que classificou a ação como autoritária e discriminatória.
“Nem no governo privatista anterior tiveram a coragem de fazer demissões em massa. Não aceitaremos que isso aconteça neste governo. Vai ter luta!”, afirmou o sindicato em nota pública.
Demissões causam indignação entre sindicatos
De acordo com o Sindppd/RS, a medida pegou os trabalhadores de surpresa e gerou revolta e sensação de abandono, sobretudo entre funcionárias mais velhas, que formam a maior parte dos demitidos. O sindicato acusou o Serpro de praticar etarismo — discriminação com base na idade — e de agir de forma contraditória com o discurso de valorização da diversidade promovido pelo governo Lula.
“A maioria dos auxiliares demitidos são mulheres numa faixa etária considerada ‘obsoleta’ para o mercado de trabalho. Essa decisão não condiz com as notas que a empresa vem divulgando de respeito à diversidade e contra o etarismo”, diz o comunicado.
O sindicato também alertou que as demissões podem abrir caminho para novos cortes entre técnicos e analistas, ampliando a insegurança no quadro funcional do Serpro.
“Decisão de 2011” e críticas à direção do Serpro
Segundo a direção do órgão, a demissão cumpre uma decisão administrativa de 2011, que previa o encerramento gradual do cargo de auxiliar por considerá-lo incompatível com as demandas tecnológicas atuais.
O Sindppd/RS rebateu o argumento e classificou a decisão como uma interpretação tardia e injustificável da norma. A entidade também criticou a forma como o Serpro comunicou o desligamento coletivo, em uma nota que, segundo o sindicato, soou “desrespeitosa” com os trabalhadores.
“O Serpro reconhece e respeita o histórico e a contribuição de todos os auxiliares ao longo dos anos”, afirmou a empresa em seu comunicado oficial — frase que, para os sindicatos, não ameniza o impacto da decisão.
Reunião nacional e possível paralisação
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados (Fenadados) convocou uma reunião emergencial com sindicatos estaduais para discutir ações jurídicas e manifestações contra as demissões.
As entidades articulam uma grande assembleia nacional para definir estratégias de resistência e planejar mobilizações em defesa dos demitidos.
“Fiquem atentos aos chamados do sindicato e da Fenadados. Vamos resistir com muita unidade e luta!”, declarou o Sindppd/RS.
Contexto político e críticas ao governo
A decisão, que atinge uma estatal sob comando do ministro Fernando Haddad, é vista como politicamente delicada para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo dirigentes sindicais, a medida contradiz o discurso de defesa dos direitos trabalhistas e expõe um choque entre discurso social e prática administrativa dentro da gestão federal.
O presidente do Serpro, Alexandre Amorim, ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso.
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