Missão internacional liderada pelo presidente brasileiro é marcada por alto número de integrantes, polêmicas diplomáticas e falta de transparência sobre despesas
A recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia e à China mobilizou uma comitiva com mais de 120 integrantes, entre ministros, parlamentares, técnicos e assessores, mas até agora, o governo federal não divulgou os custos totais da missão internacional. A ausência de transparência tem gerado críticas, especialmente diante do cenário fiscal e das exigências por responsabilidade com recursos públicos.
A primeira parada de Lula foi em Moscou, em 6 de maio, onde participou das celebrações pelos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, evento simbólico para o presidente russo Vladimir Putin em meio à guerra com a Ucrânia. A presença de Lula ao lado de líderes considerados autocráticos provocou reações negativas na esfera internacional, levantando questionamentos sobre o alinhamento diplomático do Brasil.
Polêmica em Pequim: crítica ao TikTok
Na segunda etapa da viagem, em Pequim, Lula participou de fóruns econômicos e assinou acordos bilaterais nas áreas de infraestrutura, biotecnologia e transição energética. No entanto, um episódio envolvendo a primeira-dama Janja da Silva marcou negativamente a missão. Janja teria criticado os efeitos do TikTok diante do presidente chinês Xi Jinping, alegando que o algoritmo da rede social favorece a “extrema-direita”. A fala, confirmada em parte por Lula, gerou desconforto diplomático.
“A primeira coisa que eu acho estranho é: como é que essa pergunta chegou à imprensa? Porque estava[m] só meus ministros lá, o Alcolumbre e o Elmar. Então, alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que teve num jantar, em que era uma coisa muito, mas muito confidencial”, reclamou Lula sobre o vazamento da fala de Janja.
Comitiva robusta e despesas sigilosas
A delegação contou com pelo menos 27 servidores da Secretaria de Comunicação Social (Secom), 19 da Casa Civil, além de membros da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Parte dos integrantes chegou antes da comitiva oficial para organizar a logística do evento.
O Diário Oficial da União publicou na última quinta-feira (15) a lista com 26 nomes da comitiva em Pequim, incluindo Janja, 11 ministros, o presidente do Senado Davi Alcolumbre, o deputado Elmar Nascimento (União-BA), o diretor-geral da PF Andrei Rodrigues e a presidente do Banco do Brasil Tarciana Medeiros.
Apesar da divulgação parcial, o governo não apresentou a prestação de contas da missão, que envolve altos custos com diárias, passagens, taxas aeroportuárias e serviços logísticos. Os dados disponíveis no sistema Siga Brasil indicam apenas R$ 122 mil em diárias para oito servidores, sem detalhamento dos demais gastos.
A Secom justificou o sigilo sobre parte dos integrantes da comitiva com base no Decreto nº 7.724/2012, alegando razões de segurança.
“Como tais informações podem colocar a segurança do presidente ou do vice-presidente em risco, os dados são classificados no grau de sigilo reservado”, informou a Secom em nota.
Resultados econômicos e questionamentos políticos
Durante a visita à China, a ApexBrasil anunciou investimentos de R$ 27 bilhões no Brasil, voltados para biocombustíveis, vacinas, energia e transporte. Um dos principais acordos envolve a farmacêutica Eurofarma, que firmou parceria com a chinesa Sinovac para criar o Instituto Brasil-China para Inovação em Biotecnologia.
Apesar dos resultados econômicos celebrados, a falta de transparência nos custos e na escolha dos participantes da comitiva continua sendo alvo de críticas da oposição e de órgãos de controle.
O Itamaraty ficará responsável pelas principais despesas da missão, enquanto a Presidência da República cobrirá gastos adicionais. A divulgação oficial dos valores, no entanto, segue sem previsão.
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