Declarações de Gleisi reacendem tensão entre Executivo e Judiciário
A fala da ministra Gleisi Hoffmann sobre a possibilidade de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro desencadeou uma forte reação dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. Segundo interlocutores da Corte, um recado direto foi enviado ao presidente Lula: qualquer apoio do governo a medidas que visem alterar penas já aplicadas será interpretado como tentativa de fragilizar a independência do Judiciário.
Após a repercussão negativa, Gleisi recuou. De acordo com o jornal O Globo, a ministra reconheceu que sua declaração foi “mal colocada”. Em seguida, esclareceu que o Congresso tem legitimidade para debater projetos, mas que “qualquer revisão criminal cabe exclusivamente ao Poder Judiciário”, especialmente no que diz respeito aos réus do 8 de janeiro.
Base aliada pressiona por anistia e aumenta desconforto no Planalto
O desconforto aumentou quando mais de cem deputados da base governista assinaram um documento em apoio à proposta de anistia em tramitação na Câmara dos Deputados. A adesão da base do governo à pauta apoiada por bolsonaristas acendeu o alerta no STF e gerou apreensão no Planalto sobre os riscos de um conflito institucional entre os Poderes.
Em nova tentativa de conter o estrago, Gleisi afirmou nas redes sociais e em entrevistas que “não sugeriu que o Legislativo pudesse interferir nas decisões judiciais” e que o projeto em debate “não tem o objetivo de beneficiar diretamente os participantes dos ataques de 8 de janeiro”.
STF alerta para risco de crise entre os Poderes
Nos bastidores, ministros do STF alertaram Lula sobre o risco de uma “grave crise institucional” caso o Executivo demonstrasse qualquer tipo de apoio a iniciativas que alterem sentenças da Corte.
O aviso foi direto: qualquer endosso do Planalto à anistia será lido como tentativa de minar a autoridade do Supremo, desestabilizando o equilíbrio entre os Três Poderes.
Gleisi sugere que alvo da anistia seria Bolsonaro, mas ex-presidente recusa benefício
Ainda tentando justificar a proposta, Gleisi declarou que a anistia “não é para atender às tiazinhas do 8 de janeiro”, mas sim “para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro e generais de seu governo”, investigados por uma suposta tentativa de golpe.
No entanto, a narrativa foi desmentida por integrantes da oposição. Bolsonaro teria rejeitado ser incluído entre os beneficiários da anistia, conforme relataram parlamentares aliados.
O deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS), vice-líder da oposição, confirmou ter recebido um telefonema do ex-presidente:
“O presidente me ligou ontem, ao final da tarde”, relatou. “Me consultou tecnicamente. Eu disse que ele deveria estar entre os beneficiados, uma vez que não há provas contra ele e que nenhum crime foi cometido. Mas ele fez uma nova avaliação de que, politicamente, estender o benefício a ele pode atrapalhar.”
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